No post anterior referiu-se a enorme tragédia provocada pelas inundações em Esteiros. Vamos prosseguir onde deixamos a transcrição, aquando a desvalorização da tragédia por parte do Gordo:
- Ora, meu amigo. Isto é um lago, comparado com as inundações que eu já vi na América. Ai, sim. Povoações arrasadas, campos totalmente devastados, centenas de mortos…
O amigo interrompeu a digressão. – Em todo o caso há prejuízos de milhares de contos…
- Sim, convenho que é um rombo, em lavoura pobre como a nossa.
- O Meneses de Sá, coitado, perde mais de setecentos contos. Diz-se até que vai perder o palacete no Estoril.
O sujeito gordo calou-se por instantes. (…) Pensava salvar o seu amigo proprietário, comprando-lhe o palacete.
Diz-se que na tragédia há um conjunto de oportunidades para aproveitar. Tal como se ouve frequentemente falar nas oportunidades que a crise proporciona. O Gordo, à semelhança dos especuladores financeiros, ronda atento a tragédia procurando uma presa que ao detectar fixa como um abutre. Ele preparava-se para fazer uma espécie de «ajuda externa» ao “tio” Meneses de Sá.
Mas,
- Coitado do Meneses! Seiscentos contos…
- O Estado deve ajuda-lo – explicou outro. – Fala-se de numa grande reunião de lavradores.
E por fim, talvez não seja precisa a «ajuda» do Gordo, e fica esclarecido a natureza de classe do Estado, pois este será instrumentalizado para ajudar os lavradores, latifundiários, enquanto o resto da população perderá tudo do pouco que tinha nas inundações. É semelhante ao que se faz hoje com os bancos, imagino que os latifúndios eram demasiado grandes para cair, e era preciso acalmar os latifundiários.